Publicada: 07/04/2011 00:33| Atualizada: 06/04/2011 23:46
Joaci Góes
Amamos a sinceridade, mas odiamos os sinceros. Odiamos a demagogia, mas simpatizamos com os demagogos. Eis uma das mais gritantes contradições humanas.
Até um passado recente, havia uma relação virtualmente linear entre o ritmo do desenvolvimento econômico e as taxas de emprego. Hoje, na sociedade do conhecimento em que vivemos, essa equação conta com um terceiro elemento: o nível educacional das pessoas.
Explica-se: a demanda de trabalho dependente da pura força física diminui, substituída pela aplicação da inteligência, inclusive nos trabalhos tradicionalmente associados ao uso dos músculos, como a construção civil e a limpeza de ruas, servidos, crescentemente, por modernos e sofisticados equipamentos, exigentes de prévio preparo tecnológico.
Compreende-se porque nos concursos para garis que requerem o segundo grau, participam graduados e pós graduados, mestres e até doutores, como aconteceu no Rio de Janeiro, não faz muito, fato alardeado na grande mídia.
No Brasil, em face da péssima educação pública oferecida às populações mais pobres, as disparidades sociais aumentam como decorrência da falta de consciência de nossos administradores a respeito do papel nivelador da educação, único meio capaz de viabilizar a tão popularescamente apregoada ascensão das massas, por políticos que se movem, apenas, pela motivação eleitoral.
Na educação superior, a posição do Brasil é inteiramente incompatível com seu status de sétima potência, caminhando, a passos, largos, para ser a quinta, em poucos anos, quando sabemos que não há, sequer, uma universidade brasileira entre as cem melhores do mundo. Enquanto isso, para ser competitivo, na economia globalizada de que não se pode escapar, o produto brasileiro necessita,cada vez mais, do concurso de gente com qualificação raramente encontradiça no mercado.
E ao invés de colocarmos o dedo na ferida, reconhecendo que, na atualidade, desemprego é sinônimo de preparação inadequada para ocupar os postos de trabalho disponíveis, continuamos a fazer contorcionismos dialéticos e populistas, do tipo que atribui ao “capitalismo selvagem” a insensibilidade de não contratar os despreparados que abundam, vitimados por uma educação de péssima qualidade em praticamente todos os níveis.
Apesar do fácil diagnóstico que o mundo inteligente faz de nossa realidade – que tem nas deficiências educacionais o gargalo que ameaça inviabilizar o seu desenvolvimento econômico-, é impressionante a ausência do reconhecimento, sem meias palavras, entre os políticos, em geral, do papel fundamental da educação na distribuição da renda de modo consistente e sem paternalismos malsãos.
Nunca houve na vida brasileira uma situação tão paradoxal quanto a de hoje: larga oferta de postos de trabalho sem pessoal qualificado, em número suficiente, para preenchê-los. E é precisamente aí que a mulher, mais preparada do que os homens, avança sem parar, superando-os em praticamente todos os domínios, graças à sua melhor preparação intelectual. Dois terços dos egressos das universidades brasileiras, hoje, são do sexo feminino, e essa esmagadora superioridade feminina não para de crescer.
Os campos de atividade que demandam conhecimento de ciências exatas são os últimos a serem vencidos pelas mulheres, o que é mera questão de tempo. Sem dúvida, uma mulher na presidência da República constitui poderoso estímulo para que elas estabeleçam a marca histórica de uma superioridade total. Não há país onde a mulher avance tanto quanto no Brasil.
Quem sabe se com elas consolidadas no poder, o Brasil, finalmente, não acordará para a prática do entendimento a que já chegaram as nações mais ricas de que fora da educação, nos tempos correntes, não há solução?
Vem de longe minha crença em que o Brasil ingressa, sutilmente, num matriarcado redentor. 
Publicada: 07/04/2011 00:33| Atualizada: 06/04/2011